Danna Devonne

Danna Devonne

quarta-feira, 26 de março de 2014

Capítulo 9

"Eu fecho a porta
Como muitas vezes, muitas outras vezes antes
Como uma cena cortada no chão da sala
Quando eu deixar você ir embora esta noite
Sem dizer nenhuma palavra"
- Backstreet Boys / Inconsolable


– Onde você estava? – perguntou Nathan que comia Ruffles sentado no sofá assistindo The Walking Dead.

Mel se sentou do lado dele.
– Nas nuvens – disse ela deitando.
– Ah sim – disse ele voltando a sua atenção para a TV.
O celular de Mel tocou e ela o pegou rapidamente, mas era só Sara.

Oi Mel, td bem?

Melissa guardou o celular. Ela não estava afim de falar com ninguém além de Brandon. Passou-se duas, três, quatro horas e nada de Brandon. Já eram 18:00 PM e os pedreiros já estavam indo embora. Por que ele não dava sinal de vida – pensava Mel. Lorena chegou cheia de sacolas de comidas.
– Oi meus amores.
– Oi mãe! – disse Nathan sem desviar os olhos da TV.
Sua mãe voltou trazendo um iogurte sabor chocolate para cada um, ela tirou o sapato e se cobriu com os cobertores que estavam no sofá.


– Já é Supernatural? – perguntou Lorena à Nathan.
– É sim. Começou agora – disse Nathan enquanto comia seu iogurte.
Melissa assistia a TV sem prestar atenção com um bico no rosto.
– O que foi Melissa? – perguntou sua mãe reparando sua expressão.
– Nada – disse ela ainda olhando para a TV.
Seu celular começou a tocar e ela o pegou rapidamente, mas era só Mike perguntando se ela estava bem. Mel jogou o celular de lado voltando sua "atenção" para a TV.
– Muito bem – começou a sua mãe pegando o controle remoto e desligando a televisão.
– Oh mãe! Liga a TV! – disse Nathan, mas sua mãe o ignorou.
– Fala o que está acontecendo – disse ela com autoridade.
– Não está acontecendo nada.
– Eu mandei você falar.
– Não é nada importante! Agora da pra você ligar a TV?
– É! – disse Nathan.
Sua mãe os ignorou.
– Se tem a ver com você é importante para mim. Agora fale.
– Promete que não vai brigar?
– Por que eu brigaria?
– Eu saí de casa hoje.
– Você o que? – perguntou sua mãe erguendo as sobrancelhas.
– Você que pediu pra mim contar! Posso continuar?
– Vai. Continua.
– Daí eu e o Brandon fomos em uma trilha...
– Em uma trilha? Na moita? – perguntou Nathan rindo.
– Cala a boca Nathan. Então mãe, daí fomos até um lindo lugar e ele se declarou e nós nos beijamos.
– Credo! Ele teve coragem? – perguntou Nathan.
– E agora ele não liga, não manda uma mensagem, não dá sinal de vida.
Sua mãe passou a mão em seus cabelos e depois começou a rir. Mel e Nathan se encararam sem entender.
– Do que você tanto ri? – perguntou Nathan.
– Ai Melissa deixa de ser besta e mimada!
– Do que você está falando?
– O garoto só não quer te pressionar, sua idiota.
– Talvez ele não tenha gostado do seu beijo com gosto de vômito – disse Nathan.
Melissa franziu o cenho. Será? – perguntou Melissa a si mesma.
– Faz sentido – disse Mel cobrindo o rosto com as palmas das mãos.
– Nate, assiste TV e fique quieto – disse Lorena dando o controle para ele.
Nathan se virou para a TV, Lorena encarou Melissa.
– Deixa essa paranoia Melissa! Vai viver a sua vida ao invés de ficar esperando os outros! Você é linda e existe milhões de pessoas loucas para ter a sua companhia, mostre a ele o que está perdendo ficar longe de você por um minuto.
– Falou e disse tudo – disse Nathan.
Mel riu.
– Você não presta – disse Mel rindo.
– Anda logo! Vai sair com alguém. Você parece melhor da virose.
Melissa realmente se sentia melhor.
– Tááááá bom. Você me convenceu.
– Agora não me enche mais – disse sua mãe voltando a atenção para a TV.
Mel olhou para o relógio que marcava 19:03 PM. Ela pegou o seu celular e ligou para Sara.
– Oi sua sumida! – berrou Sara ao atender.
– Oi, foi mal, eu só fui ver sua mensagem agora – mentiu ela. Nathan fingiu tossir.
– Então, eu tenho rios de coisas pra te contar! Quer vir aqui em casa?
– Hoje?
– Sim.
Melissa não estava muito afim de ir, mas Brandon havia beijado ela, duas vezes! E agora nem dava sinal de vida. Mel não ia ficar sozinha esperando ele ter vontade de falar com ela. Como sua mãe disse: viva a sua vida.
– Espera só um momento – disse Mel à Sara.
Melissa se virou para Lorena.
– Posso ir na casa da Sara?
– Voltando antes da meia noite você pode até virar stripper – disse ela.
Nathan riu.
– Quem vai querer ver ela de stripper?
– Quero sim – disse ela voltando ao celular.
– Perfeito! Me encontra na frente da escola.
Então ela desligou.
Mel correu até o banheiro. Passou um gloss e um pouco de blush.
Ela pegou seu casaco azul turquesa e pegou seu iPhone.
– Tchau gente – disse Mel saindo e fechando a porta.
De noite parecia que o frio aumentava. Melissa passou em frente a casa de Brandon , mas conteve a vontade de olha-la. Mel andava despreocupadamente, a noite estrelada iluminava aquele lugar. O vento começou a ficar mais lento e a rua mais silenciosa. Mel não sabia se era paranoia, mas achava que alguém a seguia. Ela olhou para trás, mas não havia ninguém, ela andou mais rápido. Melissa chegou em frente a escola, havia pessoas entrando em um restaurante que havia ali perto. Mel se sentou na calçada e ficou olhando as pessoas entrando e saindo do restaurante. Novamente ela teve uma súbita sensação que alguém a vigiava. Um carro preto apareceu e alguém abaixou o vidro do passageiro.
– Entra aí lindona – disse Sara sorridente como sempre.
Melissa entrou e sentou no banco de trás. Quando entrou ela viu que quem dirigia era um homem barbudo e calvo.
– Melissa conheça o meu pai.
– Então você é a famosa Melissa? A Sara não para de falar de você – disse ele a olhando pelo retrovisor.
Melissa somente sorriu. Ela não sabia realmente o que dizer.
– Então Mel. Conte as novidades! – cantarolou Sara.
– Não tenho novidades.
– Não precisa ter vergonha por eu estar aqui. Eu sou descolado. Podem conversar a vontade – disse o pai dela.
– É verdade! Ele me deixou tatuar a Lady Gaga onde eu quiser!
Melissa riu.
– Tá bom. Eu fiquei com um garoto.
– Mentira? Quem?
– Um amigo.
– Que amigo? Aquele policial bonitão?
– Não – disse Mel olhando para a janela.
– Ai meu Deus! Você ficou com o MIKE? – perguntou ela engrossando a voz.
– Não! Credo!
Sara e o pai riram do jeito que Melissa falou.
– Então com quem?
– Com o Brandon.
Melissa percebeu que os dois ficaram surpresos.
– O Brandon filho do Josh? – perguntou o pai de Sara.
Melissa assentiu.
– Por que a surpresa? – Melissa não se conteve a perguntar.
– Por que ele sempre foi quieto e nunca se envolveu com alguém por causa do que aconteceu com o pai dele. – disse Sara séria. Essa era a primeira vez que ela a viu séria.
– Eu sou psicólogo e por um tempo o tratei. Ele não se relaciona com ninguém além de sua família e de Mike. É uma surpresa maravilhosa saber que ele está progredindo. Você deve ser uma garota especial.
Não tão especial assim – pensava Melissa se lembrando de ter ficado brava com Brandon. Ele tinha seus problemas e ela o julgou sem saber o que realmente se passava na cabeça dele. Mel o faria feliz, pois era o que ela mais queria agora.
Eles chegaram em uma casa grande pintada de azul claro. Havia janelas enormes e um lindo jardim iluminado pelas luzes da casa. Quando o pai de Sara parou o carro em uma garagem que cabia 20 carros Sara e Mel desceram. Ao entrarem Melissa ficou deslumbrada com a casa. Era como estar em um palácio real do século XIX. Ela seguiu Sara até um quarto imenso e lindo parecido com aquele do desenho A bela adormecida onde ela fica quando está enfeitiçada. Mel se sentou na cama "Real".
– Adorei a sua casa.
Sara pareceu não se surpreender.
– Essa casa era dos tataravós dos meus tataravós, então foi passando de geração a geração. Meus pais iam se mudar, mas não tiveram coragem. Eu preferia uma casa mais moderna.
– Eu achei incrível – disse Mel olhando ao seu redor.
Sara pegou seu Notebook da Apple° e se jogou na cama ao lado me Melissa. Ela começou a teclar.
– Eu estou afim desse cara – disse Sara apontando para a tela do computador em uma página do Facebook. O tal cara era Carter.
Melissa franziu o cenho.
– Carter? Sério?
– Por que? O que tem?
– Sei lá.
– Me diga o que você acha dele.
– Ah. Sei lá. Eu só falei com ele algumas vezes.
Sara encarava a tela do computador.
– Você acha que foi ele que matou a Keyla. – disse Sara.
Mel ficou surpresa. Ela nem se lembrava mais desse acontecimento.
– Não sei. Não o conheço, mas você acha que foi ele?
Sara riu. Melissa pareceu confusa.
– Não foi ele porque nós estávamos juntos.
Mel arregalou os olhos depois começou a rir. Sara ficou sem graça.
– Que foi?
– Nada. É só que... é engraçado.
– Por que é engraçado?
– Porque é! O Carter com alguém normal realmente é milagre.
Sara riu.
– Como vocês começaram a ficar?
– Ele não conversava comigo, só com a Keyla e com a Blake, mas um dia na quadra ele veio me perguntar se eu era amiga da Blake e daí a gente se encontrava atrás da arquibancada, mas ele disse que não era pra contar pra ninguém. Então um dia antes da festa do Dough eu terminei com ele. No outro dia eu fui na festa e ele me pediu desculpas e disse que iríamos assumir em público e passamos a noite inteira juntos até encontrarem o corpo da Keyla.
Melissa ficou com dó de Sara. Naquele dia Carter tinha dado em cima dela, então quando percebeu que Melissa lhe dera um fora ele foi até a última opção, a Sara. Mas uma coisa era certa, não foi Carter quem matou Keyla.
– Se não foi o Carter então foi o Dough?
– Não. O Dough nem estava na festa.
– Mas a festa e a casa não eram dele?
– Sim, mas ele havia saído com uma menina chamada Carly e foram para outro lugar se é que você me entende – disse Sara dando uma piscadela para Melissa.
Mel riu.
– Então ainda não sabem quem a matou?
– Não sabem e nem suspeitos existem mais.
Melissa pensou, mas ela nem ao menos conhecia Keyla para suspeitar de alguém que a odiava.
– Você suspeita de alguém?
Sara olhou de um lado para o outro como se alguém as pudesse ouvir, depois ela se aproximou mais de Melissa e disse sussurrando.
– Eu não tenho certeza e pode ser coisa da minha cabeça, mas no funeral da Keyla parecia que a Blake estava feliz.
Mel arregalou os olhos pasma.
– A Blake? Mas por que?
– A Blake sempre quis ser o braço direito da Nanda e a Keyla sempre foi melhor. Talvez seja só neurose da minha parte.
– Eu realmente espero que seja isso – disse Melissa rindo desconfortavelmente.
– Mudando de assunto – disse Sara lhe entregando um bloquinho de folhas rosa bebê. Mel abriu e viu várias datas já marcadas.
– Então esses são os meus passos de agora em diante?
– Sim. A Nanda gosta de tudo agendado e ela quer nos preparar porque há boatos que em novembro haverá uma competição na Shockworld!
O coração de Mel disparou.
– Shockworld? Meu Deus! – disse Melissa.
A Shockworld é a competição mais importante para as líderes de torcida onde as vencedoras além de ganhar um troféu em forma de "cheerleader" também são indicadas como abertura de jogos locais ou como dançarinos de cantores como Beyoncé, Lady Gaga ou até Madonna.
– Você acha que nós temos chances? – perguntou Mel eufórica.
– Com a Nanda nos treinando? Com certeza!
– Nem consigo acreditar.
– Bom, tenho várias coisas para te falar sobre as regras.
– Pode falar.
– Pra começar é obrigatório ir com o uniforme de líder de torcida para a escola, então é necessário que você mande fazer outro uniforme para quando estiver sujo ou acontecer algum incidente. Quando houver eventos como festa escolar, festa na casa de alguém popular, bailes etc é obrigatório irmos. Os horários de ensaios têm que ser cumpridos ou você só assiste. Acho que é isso.
Sara se levantou e andou até um Closet de madeira esculpida, ela pegou uma caixinha de veludo rosa e a entregou para Melissa.

– O que é isso?
– Sua pulseira! A Nanda mandou te dar hoje! Eu nem abri.
Mel lhe lançou um sorriso e em seguida abriu a caixinha. Dentro havia uma linda pulseira dourada com detalhes e pedrinhas que brilhavam como estrelas no céu.


Sara franziu o cenho confusa. Mel reparou.
– O que foi? – perguntou Melissa.
Sara apontou para a pulseira.
– A sua pulseira.
– O que tem?
Sara chegou mais perto.
– Ai meu Deus – disse ela olhando para Mel com os olhos arregalados e um sorriso indecifrável.
– O que foi? Fala! – perguntou Melissa irritada.
Sara mostrou em seu pulso uma pulseira prateada com o seu nome. Mel voltou a sua atenção para a feição de Sara ainda sem entender.
– O que tem essas pulseiras?
Sara levantou o pulso mostrando sua pulseira prateada.
– Todas as garotas do FaabuloussGiirlss usam pulseiras de prata, mas a sua é de ouro! Tipo, a Nanda te escolheu como uma das líderes principais!
Mel ainda não entendia.
– O que tem?
– Você não entende? Você é tipo o braço direito da Nanda. Se ela te escolheu é porque você é talentosa! Ninguém além da Blake teve uma pulseira de ouro! Mas agora você tem! Eu tenho que contar para as meninas!
Sara estava mais alegre do que a própria Melissa, pois para ela era apenas uma pulseira. O fato de Melissa não conhecer tudo sobre as FaabuloussGiirlss fazia com que ela não temesse. Ela estava tranquila e estável. Sara pegou novamente o Notebook e começou a teclar.
– Pronto. Agora a escola inteira sabe que você é a nova miss faabulouss.
– Hum – foi tudo o que Melissa disse.
O celular dela começou a tocar. Mel olhou era a sua mãe.
– Alô?
– Melissa eu sei que disse que era para você voltar antes da meia noite, mas é melhor você vir agora – a voz de sua mãe parecia séria até demais.
– Aconteceu algo?
– Venha para casa – então sua mãe desligou.
Mel encarou o Chamada Encerrada.
– Algum problema? – perguntou Sara.
– Acho que sim. Minha mãe estava meia nervosa. Acho que algo aconteceu.
Sara se levantou colocando um suéter azul de lã.
– Vou chamar o meu pai para te levar pra casa.
Sara saiu correndo do quarto, após cerca de 3 minutos ela voltou.
– Vamos Mel. Meu pai está nos esperando lá embaixo.
Mel pegou seu bloquinho e sua caixinha de veludo.
Elas desceram as escadas e foram até a garagem. Elas entraram no carro em silêncio. Melissa sabia que algo estava errado. Algo havia acontecido. Seu coração martelava forte. Mel dava as instruções para o pai de Sara encontrar a sua casa. Ao chegarem Mel percebeu que somente a luz da sala estava acesa.
– Obrigada por me trazer – disse Mel. Antes de sair do carro ela deu um beijo no rosto de Sara, em seguida saltou para fora em direção a sua casa.
Mel abriu a porta, o corredor estava escuro. Ela passou andando lentamente pela cozinha. Quando chegou ma sala sua mãe e Nathan estavam sentados. Mel percebeu que sua mãe estava com os olhos vermelhos e inchados, e Nathan parecia abatido.
– Mãe? O que aconteceu? – perguntou Melissa se aproximando de sua mãe e sentando na ponta do sofá.
– Mel. Precisamos conversar.
– Sobre o que?
Melissa estava cada vez mais com medo.
– Seu avô.
– O que tem o vovô?
O avô de Melissa se chamava Marcus Stoner, avô materno, ele era alemão e havia conhecido sua vó Elise Novesque em Roma em uma viagem de intercâmbio. Melissa adorava ouvir as histórias de amor que ele contava para ela de como ele havia se apaixonado pela difícil Elise. Após a morte do pai de Melissa seu avô foi mais do que um parente para a sua família, ele foi um anjo.
Agora a sua mãe a olhava com tristeza.
– O que tem ele? O que aconteceu? – Mel estava começando a ficar histérica.
Nathan começou a chorar.
– O que está acontecendo??
Lorena pegou na mão na filha.
– Ontem seu avô teve uma ataque cardíaco e não resistiu – disse sua mãe entre soluços e lágrimas.
Melissa não teve reação. Seu coração não parava de bater desesperadamente.
– O que você quer dizer com não resistiu?
Sua mãe encarou o carpete.
– Eu quis dizer que ele morreu.
Uma batida terrivelmente forte fez lágrimas saírem sem parar. Como assim o seu vô havia morrido? Super Heróis não morriam! – gritava Melissa em seu interior.
– Não – sussurrou Melissa.
– Querida vai ficar tudo bem – disse sua mãe sem emoção na voz.
Como algo ficaria bem? Seu pai havia morrido e agora o seu avô? Duas pessoas que ela amava incondicionalmente a havia deixado para sempre!
– Amanhã nós iremos no enterro em New Jersey.
Melissa paralisou. Ir ao enterro? Agora já era demais. Ela não aguentaria ver seu avô sempre feliz e sorridente parado dentro de um caixão com os olhos fechados para sempre. Não era assim que ela queria se lembrar dele.
– Não! – gritou Melissa correndo para fora de casa. Ela correu procurando algum lugar que ela pertencesse, pois isso que estava acontecendo não podia ser verdade.
– Melissa! – gritou Lorena, mas era tarde, Melissa já havia corrido para a rua, sem rumo.
Melissa parou de correr quando começou a perder o fôlego. Sua cabeça martelava com os batimentos de seu coração. Mel apoiou as mãos no joelho para tomar ar. Estava escuro, o céu estrelado parecia sombrio. Mel se apoiou em uma árvore, nesse novo lugar que ela morava as ruas eram rodeadas de árvores. Estava escuro, mas Melissa percebeu que esta estrada não era desconhecida. Ela viu a casa abandonada. O lugar... Brandon havia lhe dito que ia ali quando se sentia triste e que agora este lugar era dela também. Então ela entendeu o que procurava. Mel entrou na trilha e foi até o lugar. Quando chegou seus olhos brilharam. A lua e as estrelas que refletiam no mar pareciam uma pintura de tão perfeita. Mel se sentou na grama e encarou a paisagem. As lágrimas voltaram jorrando em seu rosto.


Seu peito doía de tristeza, ela desejava se camuflar no mar e simplesmente desaparecer. Os pensamentos de Melissa foram interrompidos por um barulho que vinha dentre as árvores. Ela se levantou enxugando as lágrimas. Alguém apareceu, mas devido a falta de claridade ela não reconheceu a pessoa.
– Graças a Deus que eu te encontrei! Sua mãe até chamou a polícia. Que diabos você faz aqui?
Melissa reconheceu a voz. Era Brandon. Mel voltou a sentar no chão.
– Você me disse que vinha pra cá quando estava triste.
– Sim, mas não deixando o meu pai preocupado. O que aconteceu? – perguntou ele sentando ao seu lado.
Mel respirou fundo.
– Me avô morreu.
Brandon pegou em sua mão e de alguma forma ela se sentiu melhor.
– Sinto muito pela sua perda... mas Melissa a sua mãe precisa de você e fugir do que te faz temer não vai mudar o que aconteceu. Você precisa estar com ela. Você não é a única que está sofrendo, sua mãe e seu irmão também estão.
Melissa encarou o mar silencioso.
– Você não entenderia...
– Como eu não entenderia Melissa? Ver a minha mãe dentro de um caixão e saber que nunca mais a veria foi fácil para mim? Foi horrível, foi doloroso, mas fugir do que aconteceu não muda o passado. E se ele pudesse te ver ficaria furioso em te ver chorar! Sua boba.
Melissa riu, mas não um riso triste. Brandon a abraçou e ela retribuiu com a mesma intensidade.
– Vamos? Sua mãe está uma pilha de nervos – disse ele a colocando de pé.
Eles saíram de mãos dadas. Melissa ainda estava triste, mas algo em Brandon a deixava com esperança na vida. Quando chegaram em sua rua Mel percebeu que havia viaturas em frente de sua casa, ela viu a sua mãe ao lado de uma policial gordo e de Christopher. Quando sua mãe a viu partiu correndo em sua direção.
– Mãe...
Antes que ela pudesse terminar Lorena lhe abraçou.
– Nunca mais faça isso! Você me deixou louca de preocupação!
– Desculpe – disse Mel abaixando a cabeça.
Lorena olhou para Brandon.
– Obrigada rapaz por ajudá-la mais uma vez – disse ela trêmula.
– Acho melhor vocês entrarem – disse Christopher aparecendo de repente. Mel percebeu que ele reparava nas mãos dadas dela com Brandon, mas deu de ombros e seguiu sua mãe, mas Brandon a parou.
– Acho melhor eu ir. É assunto da sua família, além do mais está tarde – disse ele.
– Tudo bem – disse Melissa. Ele já fizera muito por ela sendo que a vida dele também estava difícil.
– Você está melhor?
– Estou sim. Pode ir tranquilo.
Brandon lhe deu um beijo demorado nos lábios e depois se fora. Quando Mel se virou para entrar em casa viu Christopher parado a encarando na escada, o outro policial já havia ido embora. Ela se aproximou para entrar em sua casa.
– Então você e ele estão namorando? – perguntou ele sem olhar para ela.
– Mais ou menos isso.
– Suponho que sexta não iremos jantar.
Mel ficou em silêncio.


– Pelo o seu silêncio suponho que seja um sim.
– Sinto muito.
– É. Eu também sinto. Espero que não se magoe – disse ele entrando em sua viatura e partindo na escuridão.
Melissa sentiu uma pontada no coração, Brandon jamais a magoaria. Ela entrou em sua casa, mas parou no corredor ao ouvir sua mãe falando com alguém no telefone.
– Sim. Eu sei. Amanhã nós conversaremos melhor de perto para combinar tudo – houve uma pausa – Sim. Ela ficará bem. Eu espero. Então até amanhã. Tchau.
Melissa ouviu sua mãe desligando então entrou na cozinha.
– Com quem você falava? – perguntou Mel sem hesitar.
Lorena se virou surpresa.
– Com a sua tia Lídia. Ela também irá ajudar no funeral.
Melissa escancarou a boca.
– Realmente vai haver um funeral?
– Lógico.
– Onde vai ser?
– Em New Jersey. Onde ele nasceu, vai ser enterrado junto com os meus avós.
– Que romântico – disse ela com ironia.
– Nós vamos para New Jersey amanhã.
– O que? Amanhã? – perguntou Melissa pasma.
– Sim. O funeral e o enterro serão amanhã. Arrume algumas roupas. Sairemos daqui às 04:30 AM.
– Tão cedo assim?
– Sim – disse sua mãe saindo da cozinha subindo até o 1° andar.
Melissa foi até a sala e sentou no sofá encarando a TV desligada.
Como ela consegue? Como consegue ficar tão instável? - perguntava ela a si mesma sobre a sua mãe. Melissa sabia muito bem que sua mãe estava sofrendo mais do que ela e o pior de tudo é que ela não podia fazer nada para trazer seu avô e seu pai de volta. Mel se levantou e subiu as escadas rapidamente, o corredor estava uma bagunça, havia pó de cimento e areia por todos os lados. Enfim ela encontrou suas coisa em um canto da parede no final do corredor juntos com vários pertences de seu irmão. Ela pegou o que achava necessário e desceu as escadas. Quando chegou na sala colocou suas coisas dentro da mochila escolar que havia bastante espaço, pois era grande e a outra parte de seus pertences na bolsa de líder que ela havia ganhado das FaabuloussGiirlss. Quando terminou ela se jogou no sofá e pegou o seu celular, discou o número de Brandon.
– Oi Mel. Tá tudo bem? – perguntou ele com aquela voz rouca que ela adorava.
– Ah. Está sim. Eu sei que está tarde, mas eu posso ir aí falar com você?
Houve uma pausa, Melissa verificou na tela do celular para verificar se a ligação havia caído.
– Pode sim – disse ele por fim.
– Tá bom então eu já estou indo. Até.
Mel desligou. Nathan estava saindo do banheiro enrolado em uma toalha branca com os cabelos pingando.
– Se a mamãe perguntar de mim diz a ela que eu fui no vizinho – disse ela calçando uma bota forrada e indo até a porta da frente.
– Tá bom – disse Nathan se sentando no sofá e ligando a TV no UFC.
Mel saiu disparada para fora ela correu até a casa de Brandon, mas parou de correr ao ver Brandon sentado na porta da casa dele. Quando ele a viu se levantou deslumbrado.
– Oi – disse Mel ao se aproximar.
Brandon pegou em sua mão e a puxou até dentro de sua casa. A casa dele era parecida com a dela, na verdade quase todas as casas ali eram parecidas, todas construidas na mesma época. A sala deles não havia portas e Melissa pôde ver o pai de Brandon dormindo com a filha em seus braços. Mel sentiu uma pontada de inveja. Eles subiram as escadas e Brandon a levou até um quarto. Quando eles entraram Brandon fechou a porta depois se sentou em um banco na frente de um Computador da Samsung. Mel sentou na ponta da cama dele.
– Desculpa pela bagunça. Quarto de homem – disse ele sorrindo.
– Normal. O quarto do meu irmão é mil vezes pior.
Brandon se levantou e sentou ao lado dela.
– O que você queria me falar? – perguntou ele.
Melissa olhou para seu joelho.
– Nada demais... é que nesta madrugada eu irei para New Jersey e queria me despedir de você.
– New Jersey? Por causa do seu avô?
– Sim.
– Bom, eu vou sentir a sua falta.
Melissa olhou para Brandon encantada.
– Também vou sentir a sua falta – disse ela corando.
Brandon se aproximou dela, o que fez o coração de ambos dispararem. Ele abraçou Melissa, o que foi bom, pois ela ainda não se sentia bem devido o falecimento de seu avô. Mel levantou o rosto e olhou para Brandon, neste momento ela não sabia o que faria se o perdesse. Brandon às vezes era estranho, ele mal a olhava nos olhos e Melissa nem sabia o motivo.
– Posso te perguntar uma coisa? – perguntou Melissa.
– Sim – disse ele franzindo o cenho.
– Você gosta de mim?
Brandon ergueu as sobrancelhas.
– Lógico que sim.
– Então por que você não se abre comigo?
– Como assim?
– Você nunca me diz o que sente. Você disse para mim não fugir dos problemas, mas você foge de mim.
Brandon se debruçou para frente apoiando-se no joelho.
– Eu não fujo de você, somente não quero que isso o que estamos tendo acabe, pois tudo que tem um começo tem um fim.


O coração de Melissa se encheu de tristeza. Como ele poderia pensar isso? Bem que o Christopher lhe havia avisado, ela estava magoada, mas não deixaria ele partir seu coração.
– Acho melhor nós pararmos por aqui antes que alguém se iluda e se magoe. Seremos somente amigos – disse Melissa se levantando.
Brandon ficou ali parado sem dizer nada. Melissa se sentia pior do que antes, ela não devia ter ligado para ele. Neste momento ela precisava sair dali ou choraria na frente dele.
– Eu tenho que – ir  disse ela saindo do quarto.
– Tudo bem – disse ele friamente
Mel desceu as escadas correndo, saiu da casa dele e foi direto para trás da cerca onde ninguém podia vê-la e se jogou ajoelhando no chão e então começou a chorar. Melissa sentiu alguém a cutucando, mas não se importou em olhar. Então a pessoa a cobriu com algo para aquecê-la.
– O que você faz aqui fora? Está nevando!
Melissa reconheceu a voz, era Christopher.
– Vamos – disse ele a pegando no colo e indo em direção a sua casa. Ele tocou a campainha, Lorena atendeu boquiaberta.
– Melissa! – berrou ela.
Christopher entrou e a colocou no sofá. Mel não havia percebido que tremia de frio.
– Onde ela estava? – perguntou Lorena em prantos.
– Eu a vi encolhida no chão, então percebi que havia algo errado. Ninguém ficaria parado debaixo da neve.
– Melissa o que você fazia lá fora nesse frio?
Ela não respondeu. Melissa também não havia percebido que havia começado a nevar, a dor em seu coração era maior do que o frio.
– Me responda! – disse Lorena.
– Não me lembro – disse ela.
Ela realmente não se lembrava, nem ao menos se lembrava o motivo de estar triste.
– Você realmente não se lembra? – perguntou Christopher confuso.
– Não – disse ela sinceramente.
– Pode ser um estado prós traumático – supôs Christopher.
– Prós traumático? O que a teria traumatizado?
– Não sei. Algo que a deixou triste. Talvez a morte do avô.
– Mas ela parecia bem... ou pelo menos parecia estar levando em consideração.
– Talvez algo mais aconteceu que a fez ficar sobrecarregada.
– Eu estou bem – disse Mel pousando a cabeça no colo de sua mãe e então dormiu.

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